terça-feira, 30 de abril de 2024

Exercício 3 - O mal como subordinado?

Por Jânsen Leiros Jr.

 

 “ 6Num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles.7 Então, perguntou o Senhor a Satanás: Donde vens? Satanás respondeu ao Senhor e disse: De rodear a terra e passear por ela.8 Perguntou ainda o Senhor a Satanás: Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal.9 Então, respondeu Satanás ao Senhor: Porventura, Jó debalde teme a Deus?10 Acaso, não o cercaste com sebe, a ele, a sua casa e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste, e os seus bens se multiplicaram na terra.11 Estende, porém, a mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema contra ti na tua face.12 Disse o Senhor a Satanás: Eis que tudo quanto ele tem está em teu poder; somente contra ele não estendas a mão. E Satanás saiu da presença do Senhor.

Jó 1:6-12 

 

 

E satanás se apresenta a Deus entre seus filhos...  Como assim?

Presente no prólogo como uma espécie de explicação antecipada da natureza do sofrimento que Jó experimentará em breve, essa é, seguramente, uma das mais intrigantes e questionadas cenas bíblicas. O que satanás estava fazendo no céu? E para piorar, entre os filhos de Deus? Esta é uma pergunta que os alunos me fazem em quase todo início de estudos em Jó. Todavia, muito mais interessante do que a pergunta, são as teorias que elaboram ou tomam emprestadas, quando devolvo a questão à classe, incentivando que esbocem eles mesmos hipóteses plausíveis.

É claro que a presença de Satanás entre os filhos de Deus é um aspecto inquietante, que incitou diversas interpretações e teorias ao longo da história, e, obviamente, ainda incita. E é por isso que aqui precisaremos realizar um rápido mas necessário aprofundamento da questão, pois entendo que aquilo que concluirmos a respeito dessa intrigante questão, nos auxiliará bastante na compreensão do propósito primordial do livro.

Ampliando hipóteses

Para esse aprofundamento, um olhar multidisciplinar se faz necessário, para percebermos a variedade de ilações e teorias propostas, não apenas por teólogos, mas também por filósofos, sociólogos, historiadores e arqueólogos, que se debruçaram ou não sobre a presença de Satanás entre os filhos de Deus na narrativa de Jó, mas que, porém, sempre se ocupam em avaliar a dualidade concomitante do bem e do mal no cotidiano da vida humana. Esses olhares adjacentes poderão ampliar nosso campo de observação, melhorando nossa assertividade sobre a questão.

Interpretação Psicológica

Alguns psicólogos e estudiosos da mente humana sugerem que a figura de Satanás pode ser uma projeção dos medos e desafios internos de Jó. Nessa perspectiva, a presença de Satanás entre os filhos de Deus representaria os conflitos internos e as tentações que Jó enfrenta em sua jornada[1]. Satanás seria uma espécie de ameaça à manutenção dos ciclos de boas obras-recompensas, comum na crença à época.

Essa interpretação acerta ao pontuar a questão retributiva como pertinente ao conteúdo do livro. É essa, inclusive, a mecânica crida pelos amigos de Jó, como a forma de condução divina. Porém, ao categorizar Satanás como uma possível construção mental de Jó, esquece que o personagem não está presente na cena em questão, sendo muito mais uma circunstância que o atingirá, do que uma condição sobre a qual racionalizará diante dos fatos que o levarão ao sofrimento.

Interpretação Sociológica

Sociólogos e antropólogos podem abordar essa passagem como uma reflexão sobre as estruturas de poder e autoridade na sociedade humana. A presença de Satanás entre os filhos de Deus pode ser interpretada como uma metáfora para as forças malignas que permeiam as estruturas sociais e religiosas, desafiando a ordem estabelecida[2].

Outra abordagem bastante interessante, com generosas pitadas de atualidade. Ou não é verdade que o que não nos tem faltado ultimamente são lobos em peles de cordeiros? Porém, e de novo, a narrativa exclui Jó da cena em que Deus e satanás conversam; ele não a presenciou. O que significa que Jó não teria como empreender racionalização dos fatos que antecedem sua tragédia. Além disso, uma eventual metáfora de forças malignas infiltradas, conduziria Jó a um entendimento de que seu sofrimento parte de um descuido de Deus, em deixar que um ser maligno se imiscuísse em seus planos, prejudicando a perfeição de sua providência. O que logo após as tragédias, podemos perceber que não foi o pensamento de Jó. Deus deu, Deus tirou.  Para Jó, Deus seguia no controle, apesar dos infortúnios que lhe abateram.

Interpretação Histórica

Historiadores e arqueólogos podem analisar essa passagem à luz do contexto histórico e cultural em que foi escrita. Eles podem explorar como as crenças sobre seres espirituais e divindades eram compreendidas na antiguidade, e como essas visões influenciaram a narrativa de Jó[3].

Talvez essa seja uma abordagem mais potente em possibilidades, uma vez que a análise contextual e contemporânea situa, no tempo, o conceito vivenciado por pessoas de uma determinada época sobre o sagrado e suas interações com a humanidade. E no capítulo introdutório de Jó, o que no capítulo anterior chamamos de moldura, fica claro que a narrativa se utiliza da crença vigente sobre tudo aquilo que apresenta, não sendo novidade, nem para quem escrevia, e nem para quem o ouviria, o fato de que Satanás estaria, quase que obviamente, entre os filhos de Deus que lhes prestam contas.

Interpretação Filosófica

Filósofos podem oferecer uma análise metafísica sobre a presença de Satanás entre os filhos de Deus. Eles podem explorar questões sobre o livre-arbítrio, o problema do mal e a natureza da dualidade entre o bem e o mal, buscando entender o papel de Satanás dentro desse contexto[4].

Essa é também uma abordagem bastante interessante, se considerarmos o problema do mal como um tema tratado no livro de Jó, ainda que não o tenha como questão central da narrativa. Também os amigos de Jó trabalharão hipóteses ligadas a esta dualidade, o que de alguma forma abre espaço para uma argumentação filosófica que pode ser significativa. A questão do livre-arbítrio, no entanto, não se aplicaria aqui de forma alguma, uma vez que aquilo que se abate sobre o personagem central da narrativa, não é consequência de qualquer atitude ou escolha sua, seja equivocada ou não. Seu sofrimento não é efeito cuja causa esteja em Jó, ou lhe seja responsabilidade direta ou indireta.

Interpretação Teológica Clássica

Muitos teólogos tradicionais interpretam essa passagem como uma manifestação da soberania de Deus sobre todas as criaturas, incluindo Satanás. Segundo essa visão, Satanás comparece perante Deus como parte de uma corte celestial, onde os seres espirituais prestam contas de suas ações[5].

A abordagem teológica parte de uma base consistente e pertinente em relação ao conteúdo da introdução. Colocando o mal como um subordinado de Deus, tanto o leitor quanto o ouvinte de Jó se deparam com o que poderemos chamar de um salto definitivo na revelação de Deus ao mundo. Jeová já não é mais um dentre tantos outros deuses. É como se a compreensão sobre Ele ganhasse em profundidade e sustentação, pois um dos maiores enigmas universais, se tornava totalmente simples e claro; o Deus único e soberano está no comando de tudo!

A cena em que Satanás conversa com o Senhor, nos leva a refletir sobre a soberania de Deus sobre todo o universo, inclusive sobre seres espirituais, quer sejam eles bons, quer sejam maus. A presença de Satanás diante de Deus pode ser vista como parte de um grande plano divino, onde até mesmo o adversário é submetido à autoridade e ao governo de Deus. O que para muitos, eu entendo, seja uma compreensão diferente, nova e extremamente desafiadora. Ou seja, a narrativa do livro de Jó nos mostra, desde o seu início, que Satanás não está fora do alcance do conhecimento e da providência divina, ainda que apenas e tão somente como um agente, estando totalmente ao dispor da vontade do Criador.

A interação entre Deus e Satanás nesse episódio nos leva a considerar a profundidade da soberania divina e a complexidade das relações entre o bem e o mal, entre o divino e o maligno, que não se interpõem como inimigos que se confrontem diametralmente, sendo, contudo, excludentes entre si. Essa passagem desafia nossa compreensão e nos convida a contemplar a sabedoria e o poder de Deus, ambos muito além dos limites humanos.

Equilibrando as opiniões

Ora, o entendimento teológico mais equilibrado e comumente aceito sobre o encontro entre Deus e Satanás narrado em Jó 1:6-12, portanto, é que o evento se dá em um contexto evidente de absoluta soberania sobre todas as coisas criadas; todos prestam contas a Deus. Nesse encontro, Satanás é descrito como vindo entre os filhos de Deus para apresentar-se diante do Senhor, a quem deve prestar contas de tudo, sempre. Ele não se manda! Voltaremos a este nó mais adiante.

De acordo com essa interpretação, Satanás não está presente diante de Deus como um igual ou como alguém que tem autoridade independente, mas sim como um criado por Deus e submetido à sua soberania. A presença de Satanás nesta corte celestial sugere que ele é apenas uma das muitas criaturas que estão submissas a Deus.

O Senhor, portanto, tem poder sobre todas as coisas, incluindo Satanás e os poderes do mal. E embora o diabo aja de forma malévola dispondo-se a desviar homens do caminho da justiça, ele não está livre do controle ou da autoridade de Deus. Assim, o encontro entre Deus e Satanás na passagem de Jó é visto como parte do plano soberano de Deus para exercitar a fé e a fidelidade de Jó, e não como uma indicação de que Satanás tenha poder ou autoridade em si mesmo sobre o que quer que seja. Logo, Jó só passou pelo que passou, porque Deus quis. Sua providência sempre esteve no controle. O Senhor sabia. Nós sabíamos. Somente o provado Jó que não. Mas até isso também era providencial.

 



[1] Na psicologia e nos estudos da mente humana, diversas abordagens podem ser aplicadas para compreender a figura de Satanás como uma projeção dos medos e desafios internos de Jó. Embora não haja consenso absoluto entre os psicólogos sobre essa interpretação específica, alguns estudiosos e teóricos têm explorado temas relacionados à psicologia da religião, à psicanálise e à psicologia do desenvolvimento para oferecer insights sobre a natureza dessa perspectiva. Aqui estão alguns exemplos de psicólogos e suas obras que abordam questões semelhantes:

1.       Sigmund Freud: O fundador da psicanálise, Sigmund Freud, explorou extensivamente os temas do inconsciente, da sexualidade e da religião em sua obra. Embora não tenha se concentrado especificamente em Jó, suas teorias sobre os mecanismos de defesa, o complexo de Édipo e a interpretação dos sonhos podem oferecer insights sobre como os conflitos internos podem se manifestar em formas simbólicas, como a figura de Satanás.

2.       Carl Gustav Jung: Jung, outro influente psicólogo e fundador da psicologia analítica, desenvolveu conceitos como o inconsciente coletivo, os arquétipos e a individuação. Em sua obra "Psychology and Religion", Jung discute a natureza dos símbolos religiosos e sua relevância para a psique humana. Ele poderia oferecer uma interpretação mais simbólica da presença de Satanás entre os filhos de Deus, destacando-o como um arquétipo do mal presente na psique de Jó.

3.       Erich Neumann: Neumann, discípulo de Jung, expandiu as ideias do mestre sobre o inconsciente coletivo e os arquétipos. Em obras como "The Great Mother" e "Depth Psychology and a New Ethic", ele explora os temas da religião, mitologia e psicologia em relação ao desenvolvimento humano e à sociedade. Embora não tenha tratado especificamente do livro de Jó, suas teorias sobre os complexos e símbolos podem ser aplicadas para entender a presença de Satanás como uma expressão dos conflitos internos de Jó.

Esses psicólogos e seus trabalhos oferecem uma variedade de perspectivas e ferramentas conceituais para analisar a complexidade da mente humana e sua relação com temas religiosos e espirituais, incluindo a presença de figuras como Satanás no contexto bíblico.

[2] Vários sociólogos e antropólogos oferecem interpretações sobre questões relacionadas ao poder, autoridade e religião, que podem ser aplicadas à passagem de Jó 1:6-12. Embora nem todos tenham abordado especificamente essa passagem bíblica, suas teorias e análises sobre estruturas sociais e religiosas podem oferecer insights relevantes. Aqui estão alguns exemplos de sociólogos e suas obras que discutem temas semelhantes:

1.       Max Weber: Weber é conhecido por suas análises sobre a relação entre religião e sociedade. Em sua obra "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo", ele explora como as crenças religiosas influenciam o comportamento econômico e social. Embora não tenha abordado diretamente a figura de Satanás, suas ideias sobre autoridade e poder na religião podem ser aplicadas para entender a presença de forças malignas desafiando a ordem estabelecida.

2.       Émile Durkheim: Durkheim é um dos fundadores da sociologia moderna e estudou extensivamente a relação entre religião e sociedade em obras como "As Formas Elementares da Vida Religiosa". Ele argumenta que a religião desempenha um papel fundamental na coesão social e na manutenção da ordem moral. Sua análise das estruturas sociais e rituais religiosos pode oferecer uma perspectiva sobre como a presença de Satanás entre os filhos de Deus reflete as tensões e desafios dentro da ordem social.

3.       Pierre Bourdieu: Bourdieu é conhecido por suas teorias sobre poder, capital cultural e reprodução social. Em obras como "A Distinção" e "Esboço de uma Teoria da Prática", ele examina como as hierarquias sociais são mantidas e reproduzidas por meio de práticas culturais e simbólicas. Embora não tenha se concentrado diretamente em temas religiosos, suas ideias sobre dominação simbólica e lutas de poder podem ser aplicadas para entender a presença de forças malignas desafiando as estruturas de autoridade na passagem de Jó.

Esses sociólogos e suas obras oferecem uma variedade de perspectivas sobre como as estruturas sociais e religiosas podem influenciar e serem influenciadas por questões de poder, autoridade e moralidade, como retratado na passagem de Jó 1:6-12.

[3] Historiadores e arqueólogos frequentemente abordam a interpretação de passagens bíblicas à luz de seus contextos históricos e culturais. Embora nem todos tenham se concentrado especificamente na passagem de Jó 1:6-12, suas análises sobre o mundo antigo podem fornecer insights relevantes. Aqui estão alguns exemplos de historiadores e arqueólogos e suas respectivas obras que poderiam contribuir para essa abordagem:

1.       William Foxwell Albright: Albright foi um arqueólogo e biblista conhecido por suas contribuições para a compreensão do mundo bíblico por meio de evidências arqueológicas. Em obras como "Arqueologia e Religião de Israel" e "De Abraão a Paulo", ele examina como as crenças religiosas e as práticas espirituais eram percebidas e influenciavam a vida cotidiana nas sociedades antigas do Oriente Médio.

2.       Karen Armstrong: Armstrong é uma historiadora das religiões e autora de várias obras sobre o judaísmo, cristianismo e islamismo. Em livros como "Uma História de Deus" e "O Grande Relatório", ela explora as origens e evolução das crenças religiosas ao longo da história, oferecendo insights sobre como as visões de seres espirituais eram entendidas e interpretadas em diferentes contextos culturais.

3.       Roland de Vaux: De Vaux foi um arqueólogo francês e especialista em estudos do Antigo Testamento. Sua obra mais conhecida, "Instituições de Israel no Antigo Testamento", oferece uma análise detalhada das instituições sociais, religiosas e políticas do antigo Israel, fornecendo contexto histórico para a compreensão das narrativas bíblicas, incluindo a história de Jó.

4.       F. F. Bruce: Bruce foi um estudioso do Novo Testamento e historiador do cristianismo primitivo. Em obras como "Jesus e os Manuscritos do Mar Morto" e "A Mensagem dos Manuscritos do Mar Morto", ele investiga as origens do cristianismo e sua relação com o judaísmo do Segundo Templo, oferecendo insights sobre como as crenças e práticas religiosas eram vivenciadas e interpretadas no contexto do mundo antigo.

Esses historiadores e arqueólogos oferecem uma variedade de perspectivas sobre o contexto histórico e cultural em que foram escritas as narrativas bíblicas, incluindo a passagem de Jó 1:6-12. Suas obras podem fornecer insights valiosos sobre como as crenças sobre seres espirituais e divindades eram compreendidas e interpretadas nas sociedades antigas.

[4] Vários filósofos ao longo da história abordaram questões relacionadas ao livre-arbítrio, ao problema do mal e à dualidade entre o bem e o mal, oferecendo insights sobre o papel de Satanás dentro desse contexto. Aqui estão alguns exemplos de filósofos e suas obras que poderiam contribuir para essa análise:

1.       Agostinho de Hipona: Agostinho, em obras como "Confissões" e "A Cidade de Deus", discute extensivamente sobre o livre-arbítrio humano, o problema do mal e a natureza do diabo. Ele desenvolve a ideia de que o mal é a privação do bem e explora como as escolhas humanas podem ser influenciadas pela tentação demoníaca.

2.       Tomás de Aquino: O trabalho de Aquino, especialmente em sua "Suma Teológica", aborda questões metafísicas relacionadas ao livre-arbítrio e ao mal, oferecendo uma análise sistemática da natureza do pecado e da queda do diabo. Ele argumenta sobre a existência de uma ordem divina que inclui tanto o bem quanto o mal, e discute o papel de Satanás nessa ordem.

3.       John Milton: Embora não seja estritamente um filósofo, a obra de Milton, "Paraíso Perdido", é uma epopeia que explora profundamente questões de livre-arbítrio, tentação e queda. O poema apresenta Satanás como um personagem complexo que desafia as concepções tradicionais do mal, fornecendo uma visão literária das questões metafísicas relacionadas ao diabo.

4.       Arthur Schopenhauer: Schopenhauer, em obras como "O Mundo como Vontade e Representação", oferece uma análise filosófica do mal como uma força inerente à natureza humana e ao universo. Ele discute como a vontade humana pode ser influenciada por impulsos irracionais e egoístas, refletindo sobre a natureza do pecado e da tentação.

Esses filósofos e suas obras fornecem diferentes perspectivas sobre o papel de Satanás dentro do contexto metafísico do livre-arbítrio, do problema do mal e da dualidade entre o bem e o mal. Suas análises podem ajudar a compreender as complexidades envolvidas na presença de Satanás entre os filhos de Deus na narrativa bíblica de Jó

 

[5] Essa interpretação da passagem de Jó 1:6-12 como uma manifestação da soberania de Deus sobre todas as criaturas, incluindo Satanás, é comum entre muitos teólogos tradicionais. Aqui estão alguns exemplos de teólogos e suas obras que sustentam essa visão:

1.       Orígenes: Este teólogo cristão do período patrístico, em obras como "Contra Celsum" e "De Principiis", enfatiza a supremacia de Deus sobre todas as coisas, incluindo os seres espirituais. Ele defende a ideia de que mesmo o mal é parte do plano divino e serve aos propósitos de Deus.

2.       Anselmo de Cantuária: Em suas obras, como "Proslogion" e "Cur Deus Homo" (Por que Deus se fez homem), Anselmo discute a soberania divina e a relação entre o bem e o mal, argumentando que Deus é a fonte suprema de todo o ser, e que o mal, incluindo a presença de Satanás, está subordinado à vontade divina. Ele enfatiza a necessidade de compreender o plano divino mesmo diante das aparências do mal no mundo.

3.       Martinho Lutero: Lutero, em seus comentários sobre Jó e em outras obras, enfatiza a doutrina da providência divina e a submissão de todas as criaturas à vontade de Deus. Ele argumenta que mesmo o diabo está sob o controle de Deus e é usado por ele para realizar seus propósitos.

4.       João Calvino: Nos escritos de Calvino, como as "Institutas da Religião Cristã" e seus comentários sobre Jó, ele explora a soberania absoluta de Deus sobre todas as coisas, incluindo o mal. Calvino ensina que Deus governa soberanamente sobre o diabo e o utiliza para cumprir seus desígnios divinos.

Esses teólogos, juntamente com Agostinho e Tomás de Aquino, representam uma tradição teológica que enfatiza a soberania de Deus sobre todas as criaturas, incluindo Satanás, e defende a ideia de que mesmo o mal está subordinado aos propósitos divinos.